O avesso

Ele não se sente bem dentro de si mesmo e gostaria de estar em qualquer lugar que não fosse ali, onde nenhum caminho o leva pra outra direção. Alma, pele, carne, coração, pensamentos, destrezas, erros, acertos. Cada partícula de cada detalhe contido ali não lhe pertence, ele pensa que seria mais fácil jogar tudo dentro de uma caixa e guardar à sete chaves em um cofre que ninguém jamais descobriria sequer aonde está. O medo o persegue aonde quer que ele vá, seus olhos carregam a incerteza e o cansaço da caminhada com as pernas curtas que não são capazes de levá-lo pra muito longe de si. Ele recorre ao que pensa ser sua fortaleza, mas se apavora ao ver que nem aquilo lhe é certo. Ele está só e o mundo se torna cada dia mais cruel. Em busca de braços que lhe sirvam como proteção, a caminhada daquele menino dos olhos que um dia possuíam um brilho incomum permanece intacta, ele precisa encontrar a saída. Ele precisa escapar de si mesmo antes que seja engolido por vontades que nunca lhe pertenceram. As dúvidas, o medo, o asco que sente de si mesmo, ele precisa se libertar dessas algemas que lhe aprisionam numa vida que não é sua. Ele precisa ser livre! Ele precisa da força e coragem de uma mulher que luta pelo que quer e acredita, dos olhos extremamente maquiados e os cílios longos que encantam, dos lábios avermelhados e dos seios desnudos na frente de quem se ama.