Ápice

A loucura vem aos poucos. Não parece exata, vem rasgando, ultrapassando, transformando! Sem ela a gente não seria o que a gente é. Só o pó, e isso ninguém acha útil. Nem a gente. Eu diria que a cada dia eu me torno um pouco diferente do que costumava ser, seria um equívoco falar assim já que a cada segundo eu estou um pouco diferente. Antes eu achava um absurdo mudar a todo tempo e não controlar as mudanças próprias ou com interferências externas, mas percebi que estar sempre igual não atrai nem a nossa própria atenção. A gente enjoa facilmente da nossa cara no espelho, do jeito que a gente anda, da forma que a gente pensa e até do jeito que a gente canta e dá nosso show particular no chuveiro. Aprendi a me reinventar sem reclamar das mudanças e das antiguidades. Passado também é coisa boa. Sem ele eu não seria o que eu sou hoje. O que eu sou agora. O que eu sou exatamente agora. O que eu serei no final disso. É assim que se vive: sendo um ser por dia. Um monte de coisa ao mesmo tempo. Tantos em um só. Seja lá o que a gente quiser ser, que apenas sejamos.